sexta-feira, 14 de maio de 2010

Proteção



Andávamos observando a paisagem mais linda, e talvez a mais cruel. Fazia um frio cortante, o vento jogava neve pra cima da gente, e ele me abraçou, pra me proteger. O que ele fez a vida toda, me protegendo de tudo o que achava que me faria mal. Protegeu-me de meninos, de mosquitos, de frio, de sol, de chuva, da fome, de lágrimas, de perdas, e de tantas coisas mais que eram difíceis de enumerar mentalmente.
- Pa-pa-paaai – Meus dentes batiam um no outro, fazendo barulho. – Aqui está friiiiio.
- Tudo bem, mocinha. Vamos voltar pra dentro.
Ele me puxou pela mão, coberta com luvas, mas que ainda assim não me protegiam do calor familiar das suas mãos.
Eu sorri, e tinha certeza de que ele ainda via um bebê coradinho e sem dentes gargalhando. Eu sempre seria um bebê coradinho e sem dentes pra ele.
Nós entramos em casa, e ele ligou o aquecedor. Ele me abraçou novamente, mas dessa vez foi um sinal de carinho, um sinal daquele laço que nos unia desde que eu era apenas a junção de duas células. Pai. Ele era meu pai.
Eu gostava do som da palavra. Era sonora. Era viva.
Ele me colocou na cama, e por um momento eu tive vontade de pedir a ele para me contar uma história pra dormir. Tive vontade de pedir meu leite com Nescau que costumava ser o melhor. Não fiz nenhum dos dois, eu só disse boa noite. Desejei secretamente ainda ser um bebê.
Fechei os olhos e senti ele sair do quarto, senti a confiança o seguir, senti o amor apertar no peito. Sorri e adormeci. E em meus sonhos, eu ainda era o bebê coradinho e sem dentes dele.

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PS: Essa é dedicada pro meu pai (L)

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