quarta-feira, 19 de maio de 2010

Bee


A abelha voava próxima de mim, enquanto eu tomava um suco extremamente doce. Não me lembro do que era. Talvez fosse de laranja, ou de manga.

Tinha alguma coisa naquele suco, talvez fosse a simples felicidade preguiçosa de um domingo agradável, com sol. Talvez fosse a minha felicidade.

Eu não me importava, era felicidade misturada no meu suco. De onde vinha, pouco me importava.

Fitava o mar, no ponto de onde ele deixava de ser cristalino para transformar-se em verde. E segui um pouco mais adiante, onde o verde transformava-se em azul. E onde o azul simplesmente clareava, mostrando-me o céu sem nuvem alguma. Nada de algodão lá. Tinha simplesmente azul, azul, azul, azul e mais azul. Com uma bola perfeitamente redonda de luz.

Sol.

Fechei os olhos, aproveitando o calor do sol na minha pele. Vitamina E. Eu sorri levemente por estar cumprindo o combinado com o meu médico.

Fiquei deitada, perdendo a noção do tempo, enquanto ouvia música com fones de ouvido que machucavam meus ouvidos. Eu não me importava, a música era boa.

Meu sorriso se alargou quando o sol se pôs, pintando o céu de laranja repentinamente. Estava sozinha na praia.

Pude pensar claramente. E isso era felicidade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Seu jeito

O modo como conduz as nossas conversas me cansa, me deixa tonta, com o pé atrás.
Seu jeito de dizer que me ama me derrete. A maneira como você se aproxima também, e você pode levar isso no sentido que preferir.
Tento ainda encontrar um padrão nisso tudo, que me diga o que você vai fazer em seguida. Mas eu sempre erro. Você me cega.
Pior ainda é o jeito fácil que você me tem nas mãos. A maneira como você me fascina. O modo como você me beija e como você acaba me fazendo chorar.
É engraçado como eu pareço importante pra ti, e como eu não duvido do seu amor, embora devesse.
As vezes me pergunto porque eu tenho tanta certeza que um dia vou ter seus braços em volta de mim. E eu percebo que é porque nós dois merecemos isso.
Por cada madrugada em claro, por cada briga e por cada sonho.
Cada lágrima. Cada pensamento.

Será que é tão difícil assim?

Eu queria só esquecer de você.
Eu queria só passar a borracha em tudo isso.
Eu queria ver outro sorriso sincero seu.
E eu sei bem que isso não vai acontecer.
Mas ainda acho que podíamos voltar atrás, poderíamos ser ‘nós’.
Poderíamos deixar de ser ‘eu e você’.
Seriamos ‘nós’.
Então vem, me dá um sorriso, segura minha mão e me faz esquecer o que passou. Por favor.

Secretária eletrônica

Tirei o telefone do gancho. Disquei os números preguiçosamente, pensando no seu toque.
Ouvi sua voz na secretária eletrônica. Ela me disse pra dizer meu nome após o bip, mas eu não pude obedecer, desculpe. Ela me disse também que assim que você pudesse me ligaria de volta, mas a sua ligação nunca voltou.
Sua voz me pareceu simpática, feliz, por receber a ligação, enquanto a minha tentava fugir de qualquer jeito. E ela fugiu, na forma de um grito trêmulo após o telefone repousar no gancho.
Ela um dia vai fugir na forma de um eu te amo precipitado, ou numa palavra pra te confortar. Pra buscar o seu melhor. Um dia ela nem vai precisar fugir pra você entender o que eu quero dizer.  Só um sorriso vai bastar.
Agora seria um bom momento para um sorriso.

Saber quem você é

Mal te conheci e te amei, e não sei direito como. Não sei como amei comer miojo com você ou sabia do teu sorriso sem vê-lo. Como? Eu sei que tudo isso é loucura, mas faz frio aqui sem você.  Não sei como sei, só sei. Sei que você me ouve, e as vezes tem vontade de dizer que é tudo ‘blá, blá, blá’ de menininha. Da sua menininha. E eu to com saudades de você. Dos seus toques que nunca senti. Das cores que eu veria em você. Da sua mão na minha. Dos nossos beijos e risadas. Da nossa relação mais profunda que não existiu.. Sonho com tudo o que tenho saudades. E eu não poderia ter saudades de coisas que nunca fiz nem tive. E eu to com saudades de você.
Amor. No meu dicionário, é sinônimo de você.
E eu perco meu chão, meu foco, minha respiração e minhas palavras por sua causa. E aí você está comigo. É meu. Mesmo com nossos mundos diferentes que ruíram.
E eu sei que você me entende, sei que você me quer. Eu sei que tudo isso é a gente.
Mas como você poderia me esperar?
Você vai me esperar? Vai me buscar se eu me afogar em um poço das minhas próprias lágrimas? Vai ser meu herói?
E com as nossas voltas e revoltas eu aprendi tanta coisa...
Aprendi que cada palavra que você diz é poesia.
Cada risada sua é música e cada lágrima que você derrama é água no deserto. Também aprendi que eu tenho que jogar do lado mais seguro, não me arriscar tanto, o que é uma coisa, que por mais que tenha aprendido, tenho certeza de que não vou fazer.
Mas eu descobri também as minhas vontades. Aquelas que só de pensar, o estômago já dá cambalhotas.
Só sinto vontade de te tocar. De estar com você. É como se fosse o paraíso, e eu quero isso.
Pra sempre, eu e você.
Eu não quero ir pra casa agora. Não com tudo que você me diz. Eu só quero que você me pegue nos braços. Quero ouvir a sua voz no meu ouvido. Quero teu corpo colado no meu. Quero sua mão no meu cabelo. Quero ser impulsiva e fazer tudo errado. E depois te pedir desculpas.
Sinto muito por tudo e mais um pouco, sinto muito por te querer tanto.
Mas quando tudo for certo, você vai me abraçar, me chamar de sua. Eu serei sua. Quando eu for sua, nada mais vai existir. Porque eu só quero saber quem você é.

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Amor, você sabe que os da seção "você" são teus. Mas esse é eterno. É a minha carta nunca enviada - ou enviada agora - pra ti.

Quando

Sabe quando você sente que não é o suficiente pra quem é o suficiente pra você? Sabe quando você sente que tá prendendo quem não te prende? Sabe quando você sabe que essa pessoa precisa de outra, mas você precisa dela? Quando você não quer só soltá-la e deixar que ela faça o que precisa. Mas ela precisa. Você tem que entender que faz parte dela.
Não quero dizer pra você complementar o que tem, eu deveria complementar pra ti. Eu deveria ser o que você precisa. Deveria ser suficiente pra ti. Deveria não te prender. Deveria não ter que te soltar.
Desculpe, mas eu acho que não sou o suficiente.
Às vezes números não são só números.

Proteção



Andávamos observando a paisagem mais linda, e talvez a mais cruel. Fazia um frio cortante, o vento jogava neve pra cima da gente, e ele me abraçou, pra me proteger. O que ele fez a vida toda, me protegendo de tudo o que achava que me faria mal. Protegeu-me de meninos, de mosquitos, de frio, de sol, de chuva, da fome, de lágrimas, de perdas, e de tantas coisas mais que eram difíceis de enumerar mentalmente.
- Pa-pa-paaai – Meus dentes batiam um no outro, fazendo barulho. – Aqui está friiiiio.
- Tudo bem, mocinha. Vamos voltar pra dentro.
Ele me puxou pela mão, coberta com luvas, mas que ainda assim não me protegiam do calor familiar das suas mãos.
Eu sorri, e tinha certeza de que ele ainda via um bebê coradinho e sem dentes gargalhando. Eu sempre seria um bebê coradinho e sem dentes pra ele.
Nós entramos em casa, e ele ligou o aquecedor. Ele me abraçou novamente, mas dessa vez foi um sinal de carinho, um sinal daquele laço que nos unia desde que eu era apenas a junção de duas células. Pai. Ele era meu pai.
Eu gostava do som da palavra. Era sonora. Era viva.
Ele me colocou na cama, e por um momento eu tive vontade de pedir a ele para me contar uma história pra dormir. Tive vontade de pedir meu leite com Nescau que costumava ser o melhor. Não fiz nenhum dos dois, eu só disse boa noite. Desejei secretamente ainda ser um bebê.
Fechei os olhos e senti ele sair do quarto, senti a confiança o seguir, senti o amor apertar no peito. Sorri e adormeci. E em meus sonhos, eu ainda era o bebê coradinho e sem dentes dele.

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PS: Essa é dedicada pro meu pai (L)

Pesadelo

Acordar e ver que tudo não passou de um sonho bobo é frustrante.
Quase me deixa sem forças e sem vontade de lutar. Mas aí eu fecho os olhos de novo e sonho com você aqui, abraçado comigo, deixando a minha cama com o seu cheiro, me mantendo aquecida. Me mantendo com você, com seus carinhos, com seus sorrisos.
Às vezes acho que vou chorar, mas de repente me vejo rindo pensando em você.  Em como eu queria que meus sonhos fossem tanto verdade e no quanto eu queria você aqui comigo, agora, pra me completar. Pra me fazer me sentir bem, de um jeito que só vou estar com você.
Corta a distância pela gente e me abraça. Só me deixa colocar as lágrimas que guardei pra você pra fora quando me abraçar. E quando você sorrir e disser que me ama. As que eu guardei pra você são suas.

Desafiar a gravidade

Eu acho que você não vai me colocar pra baixo.
E você não vai me colocar pra baixo.
Eu não vou te deixar me jogar pra baixo.
E eu vou desafiar a gravidade do seu mundinho, aquele que gira em torno do seu umbigo e das suas vontades.
E nem mesmo a gravidade vai me impedir de voar.
E você não vai me colocar pra baixo.
Você não vai, não vai.
Eu vou desafiar a gravidade do seu mundo.
Eu vou voar.
E vou ser forte. Você não vai me jogar pra baixo.
Eu vou voar.

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PS: Foi escrito com base na música "Defying Gravity", na versão do Glee. (:

E só eu que podia.

Eu achava que eu - só eu – podia te fazer sentir tudo isso. Achava, sinceramente, que só eu poderia fazer seu coração bater mais forte, ou conduzir borboletas ao seu estômago.
Achava que amanhã seria outro dia com você.
Achava que seria outro dia de pura felicidade.
Achava que só eu iria conseguir tirar esse sorriso gentil dos seus lábios e que só eu te daria tanto carinho e amor.
Mas não.
Você conseguiu tudo isso - e mais um pouco, vamos admitir - com ela. Conseguiu tudo o que queria. Tudo que eu não pude te dar.
Mas, o tempo vai passar, e um outro alguém te fará sentir tudo o que você me fez experimentar.
A chuva vai passar, o tempo vai clarear.
E eu vou valorizar esse outro alguém, como você não soube fazer comigo.
É só o tempo da chuva passar.

De repente

De repente, eu te vejo aqui.
De repente, você sorri pra mim, e eu mal posso acreditar.
De repente, o telefone toca, é a sua voz, e ela me diz ‘Eu te amo’.
De repente, eu sinto frio, e é o seu abraço que me aquece.
De repente, sinto sua falta, você não está, mas eu posso sentir que você gostaria de estar perto para me tranqüilizar.
De repente, eu sei que você também sentiu a minha falta, e que pensou em mim o dia todo. E eu quero estar aí com você, pra você lembrar depois e sorrir.
De repente você me deixa sem fôlego com um beijo, e a gente sorri junto, como se fosse programado.
O coração aperta, as mãos tremem, aquele frio na barriga aparece.
Nem sei como eu consigo respirar. E eu agradeço por te ter aqui. Agradeço por ter por quem chorar, pra quem sorrir e em quem pensar antes de dormir. Antes de dormir e sonhar.

Choro


Choro, grito e angústia. Eu caminhava por entre os sobreviventes raros de mais uma catástrofe provocada pela soma de ação humana e força da natureza. O resultado não poderia ser diferente. Muitos mortos, mais desaparecidos ainda. Por uma coisa simples, comum e bela. Chuva.
Chovia muito, e os repórteres nos cercavam, querendo números, estatísticas, imagens e o que mais pudessem pôr as mãos.
Eu só queria ajudar um pouco mais, amenizar a dor de mais famílias.
Consegui sentir o choro apertar a garganta, me fazendo lembrar da minha chuva interna. Lembrei-me do primeiro corpo que retirei dos escombros. Lembrava-me do corpinho gélido de criança nos meus braços. Da falta de vida naquele rosto.
Chorava. Chorei por não saber mais o que fazer.
Por não poder devolver a vida. Continuei o trabalho, mesmo com lágrimas nos olhos. Precisava continuar, e com sorte, salvar alguma vida. A cada segundo que se passava, aquilo me parecia ainda mais improvável.
Mais corpos e muito menos vida naquele ambiente sujo, impróprio. Corpos inanimados. Mortos. Sem vida.
As máquinas trabalhavam sem cessar, não paravam. A chuva continuava. Atrapalhava. E eu continuava a chorar. Meu choro atrapalhava tanto quanto a chuva.
Minhas lágrimas caíam sobre os corpos que eu carregava. Molharam minhas roupas enquanto me trocava para voltar pra casa, depois de um dia exaustivo. Molhou o carro, as chaves, o banco do motorista.
Minha vida foi regada pela chuva, pelas lágrimas e pelas tragédias daquele dia tortuoso.